3 a cada 10 mulheres no Ceará só fazem mamografia pela primeira vez após os 55 anos
Realizar o exame em rotina anual a partir dos 50 anos de idade é recomendado por autoridades de saúde
11/10/2022 16:36:10
O exame pode ser incômodo, mas é indispensável: é por meio da mamografia que casos de câncer de mama são detectados de forma precoce, aumentando as chances de cura. No Ceará, porém, 3 a cada 10 mulheres só fazem o procedimento pela 1ª vez após 55 anos de idade, bem além do recomendado pelas autoridades de saúde.
O Estado registra uma média de 41 mil mamografias por ano entre mulheres de 55 anos ou mais. Do total, cerca de 12 mil relatam ser a primeira vez. Os dados são do Sistema de Informação do Câncer (Siscan) e representam uma média entre os anos de 2019 a 2021, calculada pelo Diário do Nordeste.
Em 2022, até setembro, 32,5 mil mulheres acima de 55 anos fizeram mamografia no Ceará, 8 mil delas pela 1ª vez. Entre aquelas acima de 45 anos, foram mais de 58 mil exames – 16.705 das mulheres nunca tinham feito antes (28%), como aponta o Siscan.
ACESSO DIFÍCIL AO EXAME
A procura tardia pela mamografia entre as cearenses ocorre por uma junção de fatores, como aponta Daniele Castelo Branco, gestora da Associação Nossa Casa de Apoio a Pessoas com Câncer e coordenadora da Rede Mama:
- Desconhecimento sobre a importância de fazer mamografia anualmente;
- Medo: as mulheres sabem que precisam fazer o exame, mas acham que “dói”;
- Dificuldade de acesso.
“As mulheres vão ao posto de saúde e o médico pede o exame, mas elas ficam dois, três meses, até 1 ano aguardando pra fazer a mamografia. O fato de não conseguirem esse acesso dificulta a realização”, lamenta Daniele.
Para a artesã Maria Deusa Silva, 63, a espera já dura cerca de 3 anos. Desde 2019, ela tenta conseguir um encaminhamento no posto de saúde, “mas aí veio a pandemia, já passou, e nunca mais” conseguiu.
Daniele reforça que muitas mulheres em vulnerabilidade social que chegam à Associação Nossa Casa em busca de mamografias gratuitas “trazem isso forte no discurso: que estão há até 3 anos sem conseguir marcar”.
“A pandemia também atrapalhou muito, mas essa dificuldade já existia, é anterior. Em outubro, há um aumento das vagas, mas elas deveriam perdurar nos demais meses”, acrescenta a gestora.
A reportagem questionou a Secretaria Municipal de Saúde (SMS) sobre que fatores causam essa demora no atendimento, e aguarda resposta.
ONDE FAZER MAMOGRAFIA
De acordo com Léa Dias, assessora técnica da área da Saúde da Mulher da SMS, Fortaleza tem rede de atendimento própria e contratualizada, além de contar com a retaguarda do Estado para realização das mamografias.
“A mulher se consulta com médico ou enfermeiro na unidade de saúde, e se está na faixa etária de rastreamento, que é 50 a 69 anos, tem indicativo de solicitação de mamografia, mesmo que não sinta nada. Se tiver sintomatologia, em qualquer idade ela procura a unidade, é examinada e pode ter a indicação do exame”, explica.
A gestora lista os locais para onde as mulheres são encaminhadas na capital:
- Hospital da Mulher;
- Policlínicas;
- Santa Casa de Misericórdia;
- GEEON - Grupo de Educação e Estudos Oncológicos (organização não-governamental);
- Instituto do Câncer do Ceará (ICC);
- Instituto de Prevenção do Câncer do Ceará (IPCA)
- Hospital Geral de Fortaleza (HGF);
- Hospital e Maternidade José Martiniano de Alencar.
Léa afirma que, durante o mês de outubro, as policlínicas também disponibilizarão 60 mamografias aos sábados, “para melhorar o acesso neste mês”. Diariamente, nos demais períodos do ano, são cerca de 50 exames por dia.
Em nota, a Secretaria Estadual da Saúde (Sesa) frisou que “a porta de entrada (para mamografia) é sempre via postos de saúde”, ou seja, de competência municipal. “Caso seja necessário, as pacientes são encaminhadas às policlínicas”, acrescenta.
“As 22 policlínicas regionais estão equipadas com mamógrafos e aptas à realização do exame em pacientes encaminhadas e agendadas. O IPC, o HGF e o Hospital Geral César Cals também atuam via Central de Regulação para acolher a demanda estadual”, diz a Pasta.
A Sesa destaca, ainda, que um dos focos da campanha do Outubro Rosa é a “sensibilização junto às secretarias de saúde dos municípios cearenses para aprimorar os fluxos de encaminhamentos para a realização de mamografias na unidade”.
INFORMAÇÃO É A CHAVE
A coordenadora da Rede Mama destaca que “a exemplo do que acontece em outubro, quando difundimos entre a população a importância da mamografia, essa informação precisa ser difundida por todo o ano”. É uma das principais estratégias a serem adotadas, segundo Daniele.
“Além disso, é promover o acesso. Uma coisa é a mulher que não sabe, não tem consciência da importância; outra coisa é quem busca e não consegue”, opina. Para a gestora, “é preciso fazer uma busca ativa dessas mulheres”.
- Qualquer nódulo mamário em mulheres com mais de 50 anos;
- Nódulo mamário em mulheres com mais de 30 anos, que persistem por mais de um ciclo menstrual;
- Nódulo mamário de consistência endurecida e fixo ou que vem aumentando de tamanho, em mulheres adultas de qualquer idade;
- Descarga papilar (secreção nos mamilos) sanguinolenta unilateral;
- Lesão eczematosa da pele (manchas úmidas com crosta) que não responde a tratamentos tópicos;
- Homens com mais de 50 anos com tumoração palpável unilateral;
- Presença de linfadenopatia (inchaço) axilar;
- Aumento progressivo do tamanho da mama com a presença de sinais de edema, como pele com aspecto de casca de laranja;
- Retração na pele da mama;
- Mudança no formato do mamilo.
COMO PREVENIR O CÂNCER DE MAMA
A Sociedade Brasileira de Mastologia (SBM) lista algumas medidas que devem ser adotadas para prevenir a doença:
- Evitar a obesidade, através de dieta equilibrada;
- Prática regular de exercícios físicos;
- A ingestão de álcool, mesmo em quantidade moderada, é contra-indicada, pois é fator de risco para esse tipo de tumor;
- Exposição a radiações ionizantes em idade inferior aos 35 anos também deve ser evitada.
A entidade pondera, contudo, que “a prevenção primária desse câncer ainda não é totalmente possível, devido à variação dos fatores de risco e às características genéticas que estão envolvidas”.