Objeção a acordo com a China e moeda comum põem ida de Lula ao Uruguai sob desconfiança
Objeção a acordo com a China e moeda comum põem ida de Lula ao Uruguai sob desconfiança
25/01/2023 14:14:23
A visita do presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao Uruguai nesta quarta-feira (25) é cercada por um misto de desconfiança e prudência por parte do governo vizinho, em razão da proposta brasileira da criação de uma moeda comum com a Argentina e das objeções do Brasil às negociações de acordos bilaterais de Montevidéu com a China — o que enfraqueceria o Mercosul.
A volta de Lula à frente do Palácio do Planalto é vista, segundo os periódicos uruguaios, com ressalvas. O petista tem demonstrado mais alinhamento com a Argentina de Alberto Fernández, enquanto o Paraguai tem adotado uma postura de moderação nas relações com o Brasil. Dos quatro países fundadores do Mercosul, o Uruguai não tem o mesmo poder econômico dos vizinhos e perde força nas discussões sul-americanas.
As negociações do Uruguai de firmar um tratado de livre-comércio com a China é um dos temas centrais da viagem de Lula ao país vizinho. A possibilidade de o Uruguai ter uma relação comercial mais estreita com os asiáticos, sem a participação de outros países do Mercosul (Argentina, Brasil e Paraguai), tem causado incômodo aos demais membros.
A avaliação é que as relações comerciais do Mercosul podem ficar enfraquecidas caso a China tenha condições mais favoráveis para negociar dentro do continente. Fernández é contrário à proposta e, com a posse de Lula, o Brasil passou a questionar a ação com mais ênfase.
Um dos temores de Argentina, Brasil e Paraguai é que o Uruguai possa ter resultados mais positivos por importar produtos fora da Tarifa Externa Comum (TEC), um pacote de taxas que é aplicado em produtos e serviços negociados por todos os membros do Mercosul.
Durante entrevista em Buenos Aires, o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, afirmou que o destino de sucesso da América do Sul passa pelo Mercosul. Questionado sobre o acordo entre Uruguai e China poder ser compatível com o bloco sul-americano, ele respondeu que vai avaliar isso no encontro com o presidente do Uruguai, Luis Lacalle Pou.
Em suas declarações sobre o tema, o presidente uruguaio tem afirmado que o Mercosul "continua sendo vital" para o país, mas disse que não pode ser impedido de ampliar os laços comerciais. "O Brasil é o nosso segundo parceiro comercial, a Argentina é o quarto, atrás dos Estados Unidos. O que não se pode exigir é uma coisa ou outra. Nós nunca dizemos ‘vamos negociar com a China ou com o Pacífico e abandonar o Mercosul’. Nunca foi essa a questão, pelo contrário", disse.
"O Mercosul é a quinta região mais protecionista do planeta. Entendemos as posições de outros países que têm interesses e posições distintas. O Uruguai precisa abrir-se ao mundo. E isso é uma visão deste governo. A gente vem caminhando e estamos nessa etapa", completou Lacalle Pou.
Além do encontro com o presidente Lacalle Pou, Lula se reúne também com o ex-presidente José Mujica e com a ex-vice-presidente e atual senadora Lucía Topolasnky. Após as agendas, o petista retorna para Brasília, de noite.