Ibiapaba FM 98,1 - Novo programa federal para renegociação de dívidas não resolve arrecadação, dizem especialistas

Novo programa federal para renegociação de dívidas não resolve arrecadação, dizem especialistas

Novo programa federal para renegociação de dívidas não resolve arrecadação, dizem especialistas


20/01/2023 07:12:47

O novo programa de renegociação de dívidas apresentado pela equipe econômica do presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) pode não ser o ideal para reverter a situação de déficit da União, dizem especialistas. O Litígio Zero, que faz parte de um pacote de medidas para conter o saldo negativo de R$ 231,5 bilhões dos cofres públicos, foi anunciado por Fernando Haddad, ministro da Fazenda, na quinta-feira (12) e publicado no Diário Oficial da União no dia seguinte.

O projeto prevê o parcelamento de dívidas com o governo federal e guarda semelhanças com o Programa de Recuperação Fiscal (Refis), cuja primeira edição foi instituída em 1999, durante o segundo governo de Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Durante a apresentação do pacote, no Ministério da Fazenda, Haddad e o restante da equipe negaram que o Litígio Zero seja um novo Refis. Especialistas ouvidos pelo R7 avaliam que o antigo programa seria mais adequado para atender os anseios do governo — Lula quer terminar o ano com saldo positivo nas contas federais.

É o que aponta advogado tributarista Guilherme Elia. "Entendo que, para o objetivo anunciado de aumentar a receita, o Refis seria mais apropriado, justamente porque é mais amplo e permitiria a adesão de uma infinidade muito maior de contribuintes, incluindo grandes empresas com altos débitos em discussão administrativa ou judicial", afirma.

Para o jurista, as vantagens do Litígio Zero são limitadas. "O programa beneficia basicamente pessoas físicas, microempresas e empresas de pequeno porte, porque são os que tiveram as melhores concessões de descontos, que chegam a anistia completa de multas e juros, desde que observado o limite total de 65% da dívida total atualizada", aponta.

Para as empresas de médio e grande porte, de acordo com o especialista, o benefício é pequeno, pois não haverá descontos, apenas parcelamento com incidência de taxas sobre cada parcela. "Neste caso, não há muita novidade", completa Elia.

O professor de economia Cesar Bergo aponta que, apesar da distância que o governo quer manter da modalidade antiga, há semelhanças. "Esse tipo de situação, com dispensa de multa e parcelamento, é estrutura do Refis. O novo programa permite que o contribuinte faça os acertos e fique em dia com a receita em relação aos tributos, assim como o Refis", analisa.

Murilo Viana, especialista em contas públicas e consultor da GO Associados, explica a relutância de Haddad em comparar o Litígio Zero ao Refis. "O Refis é alvo de estigma e é mal visto, não pelos contribuintes, mas por quem avalia as políticas fiscais", afirma.

"Uma coisa é ter Refis vez ou outra, mas os governos têm feito com muita frequência. É tido como uma forma de premiar o mau pagador", comenta Viana.

Viana argumenta que há consequências negativas a longo prazo com esse tipo de programa. "[A renegociação de dívidas] ajuda a melhorar a arrecadação do governo no curto prazo, mas pode deteriorar a arrecadação a longo prazo, justamente porque incentiva as pessoas e as empresas a não pagarem os impostos em dia. Não por má fé, mas porque precisam de crédito, cujo acesso é estreito no país, então muitos acabam postergando o pagamento de dívidas", completa o especialista.

Por isso, o Litígio Zero tem caráter de solução provisória para o especialista. Murilo Viana afirma que o governo precisa definir novas diretrizes permanentes para a economia.

"Há o desafio grande de apresentar a nova âncora fiscal ainda no primeiro semestre. Há expectativa de novas medidas, porque muitas das que foram anunciadas têm efeitos temporários. É preciso um ajuste fiscal estrutural, não só de um ou dois anos, mas com mudança de trajetória dos gastos", aponta.

Para ele, a principal relevância das medidas anunciadas por Haddad — entre as quais o Litígio Zero — é a demonstração de que o novo governo está preocupado com o déficit primário e a questão fiscal. O aceno tem peso, principalmente, após a aprovação da proposta de emenda à Constituição (PEC) do estouro, que permitiu furo no teto de gastos para bancar promessas de campanha de Lula.

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